Texto e fotos por Denise Marçal
No último domingo, dia 1° de janeiro, eu estava na posse do Presidente Lula. Muitas imagens me chamaram a atenção, mas o meu olhar se voltou aos espaços ocupados pelo ser feminino, em vários momentos daquele dia histórico.
Muito antes de uma mulher negra, periférica, passar a faixa ao Chefe do Executivo, o protagonismo feminino já estava presente nas manifestações artísticas que abriram as celebrações da posse.
Grupos artísticos conduzidos e formados apenas por mulheres faziam parte do Esquenta Cultural na Esplanada dos Ministérios. Dali, já dava para sentir e perceber que a presença feminina seria marcante naquele momento histórico.
Elas tocavam, dançavam, trazendo no rosto todo o encanto de quem perdeu o medo de brilhar, de quem vê um novo amanhecer para o ser mulher, após trevas de misoginia.
Pode ser que você tenha uma visão política diferente da minha e eu respeito isso, mas, como mulher, ver essas representações num ato político tão importante quanto a posse de um Presidente da República me inspira e me enche de esperança de ver mulheres cada vez mais ocupando espaço na história sociopolítica do País.
Durante a cerimônia, vimos as primeiras damas Janja Silva e Lu Alckimin subindo a rampa primeiro. Na hora de passar a faixa presidencial, Aline Sousa, 33 anos, catadora de materiais recicláveis, foi quem protagonizou esse gesto, sendo a primeira da história a realizá-lo. Além dela, a cozinheira Jussimara Fausto dos Santos, também estava no cerimonial, representando o povo brasileiro nesse ato simbólico.
Quem melhor representa o povo brasileiro, senão uma mulher? Segundo Pesquisa Nacional de Saúde 2019 (PNS), nós, mulheres, somos 52,2% (109,4 milhões) da população residente no Brasil. Além disso, quase metade das casas brasileiras são chefiadas por mulheres.
Cerca de 34, 4 milhões de mulheres são responsáveis financeiramente pelos próprios domicílios, segundo levantamento da Consultoria IDados, realizado com base nos números do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Fora todos os demais índices de desigualdade social que não vou listar aqui. Por isso, faz muito sentido ver esta mulher passando a faixa presidencial.
São ações simples, ousadas para um protocolo que sempre priorizou a figura masculina, mas extremamente representativas em uma sociedade machista. Seja a primeira dama, a artista ou a catadora de lixo reciclável, cada mulher ali me representou um pouco. Somos muitas, diversas e singulares. Temos voz, direitos e competências para liderar. E merecemos brilhar com nosso protagonismo e nossas potências.