Por Régia Honório

Todos os dias, é um entra e sai nos consultórios. São mulheres e homens (esses um pouco menos), sentados nas recepções, à espera de um milagre. Estão à espera de um passe de mágica. Na verdade, vários passes de ciência, transformados em fonte da juventude, envasados em frascos e seringas.

Nas clínicas de estética, é possível encontrar mulheres de todas as idades. Desde meninas de vinte e poucos anos - a maioria seguidora das digitais influencers que aparecem com suas peles impecáveis e filtradas nos feeds do Instagram - até mulheres maduras, colocando a manutenção dos procedimentos em dia ou mesmo correndo atrás do prejuízo.

É proibido envelhecer.

Quando eu era criança, eu lembro de ver minha mãe e seus vários potes de cremes importados em um ritual noturno de esperança. Naqueles potes, ela depositava seu desejo de rejuvenescer ou, no mínimo, estancar o processo do envelhecimento.

As mulheres ainda depositam esperanças nos potes de substâncias cada vez mais sofisticadas. A indústria milionária da estética e da cosmética investe em novas tecnologias, ano após ano. Os produtos surgem com novas embalagens e novos veículos. São géis, cremes, mousses, séruns, ácidos, loções etc. Muitos são eficientes, melhoram a textura da pele, suavizam manchas, dão brilho, hidratam profundamente e até amenizam pequenas rugas, mas o milagre do rejuvenescimento, esse eles ainda não realizaram.

Em um mundo cada vez mais digital e midiático, a pressão pelo padrão de beleza e juventude se tornou mais opressora do que no tempo de minha mãe e, salvo algumas manifestações de libertação ainda pequenas como movimentos ageless e afins, mais do que nunca, estamos aprisionadas no desejo de não envelhecer. Há uma angústia coletiva, gerando uma grande mobilização na luta contra a flacidez, contra a perda do tônus muscular e a perda da forma magra.

É um movimento que gira uma gigantesca cadeia de negócios, movida pela insatisfação da autoimagem. Uma indústria que não tem o menor interesse em poupar a sanidade mental das mulheres. E é devido a essa não aceitação que caem milhões e milhões nas contas dessas empresas, todos os anos.

A verdade é que, hoje em dia, é difícil não ceder à pressão e não correr para um profissional de estética com intuito de fazer pequenos ou grandes reparos, afinal, eles têm as porções mágicas (produtos) e varinhas de condão (bisturis e seringas) que fazem o encanto acontecer. O resultado, muitas vezes, são rostos esticados, paralisados e até inchados. A novidade é que o conceito de beleza mudou mais uma vez e agora beleza natural saiu de moda.

Não que eu seja contra a procedimentos. Admiro a ciência e a tecnologia por trás dos ótimos produtos que temos, mas o medo de envelhecer, hoje, é tão grande que, às vezes, perdemos a mão. Rostos e corpos com formas artificiais são o novo normal. E se você gosta de ver os movimentos dos músculos da sua testa, você pode parecer uma pessoa estranha, em algumas rodas.

Não, esse texto não é uma crítica às mulheres que estão na busca da juventude. Eu as entendo muito bem. Ser mulher e envelhecer, no Brasil, não é fácil. Aqui, se você é jovem, bonita e ainda é competente, você é notada. Mas basta você não estar dentro do padrão para isso mudar. Por mais que você seja uma ótima profissional, você é julgada pela idade e pela aparência. À mulher não é dado o direito de envelhecer.

Ser mulher e envelhecer, no Brasil, não é fácil. À mulher não é dado o direito de envelhecer.

Régia Honório

O tempo passou. Eu cresci e me tornei uma mulher cujos potinhos de esperança me esperam todas as noites no meu banheiro. Tem noites em que me rendo a eles e outras não. Lido, todos os dias, com a briga interna de tentar não ser escrava dos padrões, de encarar, sem dor, o surgimento das rugas e dos primeiros fios brancos. Não é fácil. Posso e vou apagar ou amenizar alguns sinais sim, fazer pequenos ajustes que me tornem mais confortável com a minha autoimagem, mas o que eu não posso é esquecer que essa já é uma guerra vencida.

Régia Honório é Jornalista.